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Dr. Esculape, le Serpentaire

Era una vez un arte campesino y plebeyo
como todos nosotros pero,
en una de sus más belas auroras, soño,
yo seré más, más que todas las otras artes
poseeré todas las vidas, poseeré hasta las vidas
de los reyes, seré arte de las artes...

José Maria Tavares de Andrade

PARA UMA ETHNOIMUNOLOGIA

Se considerarmos os fenômenos imunológicos do ponto de vista diacrônico somos obrigados a reconhecer um elo freqüentemente esquecido e que eu chamo de Ethnoimunologia. Neste novo campo da Etnomedicina, cruzamento de vários domínios, trata-se antes de tudo, de uma perspectiva e de uma vocação de esforços interdisciplinares para o reconhecimento /conhecimento de fenômenos e contextos que podem ser avaliados como pertinente - para uma Etnoimunologia.

Nos anos sessenta, Roger Bastide - Etnólogo e Médico no Hospital dos Inválidos, então meu diretor de tese - distinguia no contexto africano a magia do sorcery por oposição a do witchraft: a substância que se encontra no estômago de certas pessoas, o que pode ser e é herdado em geral - mas que pode também ser introduzido - faz do indivíduo que o possui, um curandeiro (sorcier) cf. verbete Magie in Encyclopaedia Universalis).

Estudando A magia na articulação entre o campo religioso e o campo medical pude identificar curadores brasileiros, imunizados e imunizadores, usando sua saliva como uma espécie de vacina ou soro. Em práticas de Medicinas Tradicionais do Brasil, por exemplo, comia-se um órgão de serpente para ser imunizado contra seu veneno.

Por ocasião da Jornada "Les orifices du corps" (out. 2001, Univ. Marc Bloch - Strasbourg - cf. Méchin, C. et al., - prefácio de Mazars, G., Le Corps et ses orifices, Paris, L'Harmattan, 2004), eu fazia esta proposição de uma Etnoimunologia, ao mesmo tempo que foram corroboradas, por etnógrafos europeus e outros, as práticas tradicionais que podem tornar-se pertinente de um ponto de vista imunológico.

Localizamos num continuum os fenômenos imunológicos e os procedimentos naturais e artificiais de autodefesa, para enraizar o cultural no biológico e este no físico. A Etnoimunologia não se define como uma pré-história esquecida da Imuno(logia). Ela visa o estudo comparativo de fenômenos de imunização natural (ou do ponto de vista microbiológico, orgânico e animal) e de procedimentos de imunização artificial. Além da constatação de fenômenos naturais, que já suscitaram pesquisas de recursos específicos às descobertas atuais, propomos levar a sério práticas tradicionais (de Medicina bem como de Higiene, Profilaxia, Puericultura e porque não de cura mágica) susceptíveis de serem corroboradas do ponto de vista biológico.

A identificação de práticas etnográficas e de análises do ponto de vista da Imunologia, além de novas descobertas médicas, poderiam legitimar práticas tradicionais freqüentemente reduzidas à práticas exóticas, irracionais ou em continuidade com o mundo animal.

A atual conjuntura de bioterrorismo, ajuda-nos a olhar de modo diferente velhos e novos desafios que estão em jogo. Povos autóctones vítimas de genocídios devidos sobretudo à doenças dos colonizadores, tornam-se finalmente imunizados ao longo do tempo. Eles, com uma taxa demográfica ascendente, lembram atualmente que foram as primeiras vítimas de guerras biológicas.

Ao contrário de uma Medicina moderna que desconhece ou simplesmente nega a existência de certas doenças tradicionais, o campo da Etnoimunologia pode representar um reinvestimento de categorias eruditas cobrindo uma realidade não descrita até o presente. Trata-se de reconhecer práticas humanas que podemos finalmente intercalar entre uma imunologia natural (auto-imunidade, somática, orgânica, animal e microbiológica) e uma imunidade artificial (da Medicina oficial ou científica). A Etnoimunologia pode estabelecer um diálogo perdido entre as Medicinas que são muito mais distantes quanto aos seus códigos e recursos que a respeito de fins primordiais.

J.-M. Tavares de Andrade - Séminaire du 29 mai 2004 (Cliché G. Mazars)

Contact : José Maria Tavares de Andrade, 36, rue de Sélestat - F-67100 Strasbourg
Tel : 33 (0) 3 88 34 03 33 - E-mail: zeandrade@free.fr

© J.M.T. de Andrade, 2004

Toute référence à ce texte doit porter la mention suivante : De Andrade J.M.T., "Para uma Ethnoimunologia". 21.06.2004.
[http://ethnomedecine.free.fr/textes/ethno_im3.htm]


 
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