Universidade de Brasília
quinta-feira, 23 agosto, 2007
 

21/ 08/ 2007 - polÍtica pÚblica

Contra a mercantilização da Saúde

Seminário debate utilização da medicina tradicional na cura e na prevenção de doenças. Idéia é tornar remédios mais acessíveis

CRISTIANE BONFANTI
Estagiária da UnB Agência

Cláudio Reis/UnB Agência
Para Andrade, a política nacional de plantas medicinais é um avanço

A aprovação, pelo Brasil, da Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, em 2006, é considerada pelo pesquisador do Grupo de Etnomedicina da Universidade de Estrasburgo (França), José Maria Tavares de Andrade, um avanço no estudo da medicina tradicional (veja lateral). Ele está no Brasil para participar do seminário Da Medicina Tradicional à Política Pública, iniciado na manhã de terça-feira, 21 de agosto, na Universidade de Brasília (UnB), encontro que segue até o dia 22. O decreto 5.813/06 estabelece linhas e diretrizes prioritárias para o desenvolvimento de ações voltadas à garantia do acesso seguro à fitoterapia e a seu uso racional.

"O governo brasileiro demonstrou uma opção pelos pobres e apoiou o projeto de medicinas alternativas e complementares. O carro-chefe é a fitoterapia, que é a cura por meio do uso de plantas", explica o pesquisador. Ele avalia que, agora, o Brasil precisa do apoio da sociedade civil organizada para levar as iniciativas adiante. A idéia por trás do seminário que acontece na UnB é justamente buscar esse apoio social, além de articular a organização do III Seminário Latino-Americano de Medicina Tradicional. O encontro também deve ser realizado na UnB, mas ainda não há data definida. A primeira edição ocorreu no Peru, nos anos 1980, e a segunda na República Dominicana, nos anos 1990.

ESTILO DE VIDA - Uma das ações de bastidores do encontro é lutar contra a mercantilização da saúde no Brasil, que vive uma situação constante de aumento dos preços de remédios e serviços de saúde, e incluir a utilização dos recursos naturais no estilo de vida do brasileiro. "As ciências da saúde foram engolidas pela tecnologia. Nós nos tornamos dependentes do modelo moderno, cuja finalidade principal, hoje, é ganhar dinheiro", critica Andrade.

Cláudio Reis/UnB Agência
Lourdes Bandeira, do ICS: quanto mais tecnologia, mais caros são os remédios

Uma das responsáveis pela organização do seminário, a diretora do Instituto de Ciências Sociais (ICS) da UnB, Lourdes Bandeira, reforça que, quanto mais tecnologia está envolvida, mais caros e inacessíveis ficam os medicamentos. "A medicina tradicional tem origem vinculada a grupos de cultura popular, como populações ribeirinhas e indígenas, e é acessível a pessoas de baixa renda, além de possibilitar o encontro de diferentes tradições", destaca Lourdes.

"A medicina moderna contribui bastante para a saúde humana, mas também é necessário se preocupar com um estilo de vida saudável, como alimentação correta e tempo de sono", aponta o reitor honorário do Grupo de Medicina Tradicional da China, Moo Shong Woo, que também participa do seminário na UnB.

Cláudio Reis/UnB Agência
Segundo Palmira, a medicina natural é importante para prevenir doenças

AVANÇOS - Presidente do Movimento Popular de Saúde da Paraíba, Palmira Sérgio Lopes defende que, para alavancar o projeto, é necessário que as prefeituras dos municípios brasileiros reservem área para o cultivo de plantas medicinais e ofereçam pessoal e materiais para desenvolver a medicina tradicional no país. O grupo coordenado por Palmira reúne 12 pessoas, mas cada uma planta em seu próprio quintal e tem de conciliar a prática com outras atividades diárias.

Palmira aprendeu a medicina tradicional com os pais e só precisou tomar remédios aos 37 anos, quando perdeu um filho depois de uma pancada na barriga. Hoje, aos 67 anos de idade, ela esbanja saúde e sonha que suas próximas gerações levem o aprendizado consigo. "Muitas pessoas têm a receita médica, mas não têm dinheiro para comprar os remédios. Os medicamentos naturais são mais acessíveis e importantes não só para a cura de doenças, mas para a prevenção", afirma Palmira. O seminário Da Medicina Tradicional à Política Pública é organizado pelo ICS da UnB, o Decanato de Extensão (DEX) da universidade e a Universidade de Estrasburgo. Termina na quarta-feira, 22 de agosto.

PROGRAMAÇÃO
Seminário Da Medicina Tradicional à Política Pública
Local: auditório do Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares (Ceam) da Universidade de Brasília (UnB)

Quarta-feira, 22 de agosto
Horário: 9h às 12h

Mesa-redonda: Medicina tradicional do ponto de vista do mercado, com Vanderlei de Castro, da empresa Agrotec Tecnologia Agrícola e Industrial; e Donald R. Sawyer, professor do Centro de Desenvolvimento Sustentável (CDS) da UnB e do Centro de Plantas Medicinais do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Haverá debate após a apresentação dos palestrantes.

 
 

MEDICINA TRADICIONAL

Também conhecida como complementar, alternativa ou não-convencional, a medicina tradicional reúne conhecimentos teóricos e práticos desenvolvidos antes do que se classifica como medicina moderna. Ela é baseada nas teorias e experiências empíricas de diferentes culturas, explicáveis ou não pela ciência, e utilizada tanto na manutenção da saúde como na prevenção e na cura de doenças. Exemplos de uso da medicina tradicional são a acupuntura e os remédios homeopáticos.

 

Todos os textos e fotos podem ser utilizados e reproduzidos desde que a fonte seja citada. Textos: UnB Agência. Fotos: nome do fotógrafo/UnB Agência.


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